Podemos considerar a música um produto? De
certa maneira sim! Pois é encontrada nas principais prateleiras do mercado
fonográfico. Algumas são compostas sob medidas, outras acompanham as tendências
do mercado, e por fim algumas caem no tom dos ouvintes, sem muita propaganda.Em certos sucessos, o marketing tem papel
fundamental, mediante a segmentação de mercado, ainda que muitos compositores
não vejam desta forma, simplesmente criam o que sentem. Disponíveis nas
principais gondolas, quer sejam, românticas, sambas, pagode, rock, pop, forró, axé,
sertanejo, gospel... todas ao alcance das mãos e dos ouvidos, aguçando os mais
variados sentimentos.
Algumas composições são customizadas de
acordo com as exigências do cliente, ou seja, para um contexto de uma novela,
um filme, um desenho, um país, um comercial e uma geração. Dentro deste
compasso de produção, o segmento samba-enredo é o que exige mais do compositor,
pois reúne pesquisa, história e pouco espaço de tempo para apresentar e
encantar o tema na avenida.
Assim como acontece em algumas profissões
compor é um dom. Cada um tem um modo particular de criação, de madrugada, na
beira do rio, ao entardecer, com amigos... Mas o teor é o mesmo! Sentimento,
vivência, momento e público-alvo. Como não lembrar de grandes compositores?
Cartola, pessoa humilde, pouco estudo e composições marcantes; Chico Buarque,
com suas letras visionárias femininas e de protestos; Roberto Carlos e Erasmo
Carlos impregnados de amor e paixão; Renato Teixeira trazendo o campo para a
cidade grande e Renato Russo resgatando a juventude da opressão e expondo o
desejo de um novo Brasil.
Talvez muitos compositores, não tenham a
dimensão, do quanto suas obras primas alcançam os mais variados púbicos
demográficos, geográficos e psicográficos. No passado tínhamos um canal de
distribuição bem restrito, apenas o rádio, televisão ou a venda do LP ou CD.
Com advento da internet, a música rompeu fronteiras e ficou mais acessível, em
alguns casos gratuitas, projetando compositores e cantores para carreiras
nacionais e internacionais promissoras.
Acredito que todos nós temos uma música
marcante em nossas vidas, ainda que esta, nos remeta a momentos de alegrias ou
tristezas...a primeira namorada, o casamento, uma viagem, a morte de um ente, o
nascimento do filho, o primeiro emprego, a distância de um amigo... e que não é
diferente quando falamos de épocas marcantes do nosso Brasil. Como não associar a música “Pra não dizer que
não falei das flores” de Geraldo Vandré à ditadura, a qual virou um hino para aquela
geração? ou nas Diretas Já! Coração de Estudante de Milton Nascimento e Wagner
Tiso? Canção das Américas de Milton Nascimento e Fernando Brant entoada na
morte de Ayrton Senna? Love Of My Life na voz de Fred Mercury do grupo Queen,
na primeira edição do Rock in Rio?
Nas últimas décadas e precisamente nos
últimos dias fomos impactados, por uma coletânea de corrupções, delações,
propinas e melódicas inocências. Levando mais uma vez o nosso querido Brasil a
uma posição vexatória e despertando vários acordes nas capitais!
Mas, e hoje? Como diria o animador Silvio
Santos: Em quantas notas. Eu pergunto. Qual é a música?
Podemos justificar a resposta, de forma não
generalizada, na obra do compositor Bezerra da Silva, o qual entoava sambas,
com boas doses de humor e críticas sociais. Dentre suas interpretações, Reunião
de Bacana, composição de Ary do Cavaco, ecoa neste show de indignações:
“Se gritar pega ladrão, não fica um meu
irmão! Se gritar pega ladrão, não fica um! ”
Vanderlei Siqueira de Mendonça
Artigo publicado no Jornal A Gazeta,
Cuiabá/MT, abril 2016.
Artigo publicado no Jornal A Gazeta,
Cuiabá/MT, abril 2016.